sábado, 27 de dezembro de 2008

SOMOS TODOS IGUAIS?

FEDERAÇÃO DAS APAES DO ES/FACULDADE UNIVENETO
POS-GRADUAÇÃO/ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCACÃO ESPECIAL/EDUCAÇÃO INCUSIVA com ênfase nos parâmetro curriculares das APAES


DANIELLE FALCÃO ALVES


Trabalho apresentado ao Curso de Pós Graduação/Especialização em Educação Especial/Educação Inclusiva em ênfase nos parâmetros curriculares das Apaes da Federação das APAES do ES/Faculdade Univeneto, como requisito parcial e obtenção de nota na disciplina Princípios Históricos Filosóficos e sociais da Educação ministrada pela Professora Terezinha Schutcher.


VITÓRIA
2008
SOMOS TODOS IGUAIS?

A aceitação das pessoas provém da minha própria aceitação. Meu espaço é meu por direito e ninguém poderá mudar isso.



Maria da Penha de Souza, 32 anos.



Muito se fala acerca da inclusão de pessoas com deficiência nas escolas, nos espaços públicos, mas precisamos entender que não são somente pessoas com deficiência que estão excluídas, à margem da sociedade, mas sim todos aqueles que não conseguem dar conta de acompanhar e inserir-se efetivamente no que a sociedade capitalista oferece, que é tão pouco. Infelizmente muitas vezes assume-se apenas uma postura de contemplação da realidade, assim como pontua GENTILI (2001, p. 30-31)),

Em nossas sociedades fragmentadas, os excluídos devem se acostumar à exclusão. Os não excluídos, também. Assim, a exclusão desaparece no silencio dos que a sofrem e no dos que a ignoram... ou a temem. (...) Entretanto, o medo não nos faz “ver” a exclusão. O medo nos leva a temê-la. E o temor é sempre, de uma forma ou de outra, aliado do esquecimento, do silêncio.

Dentre as grandes histórias de inclusão e/ou exclusão, temos aqueles cidadãos que superam suas limitações, que percebem que acreditar em si é o primeiro passo para serem aceitos pelos outros, destaco Maria da Penha de Souza, nascida em 01/02/76, cadeirante em virtude de um Tumor de Célula Gigante – TCG na coluna lombar (sacro e cóccix) e a mesma relata que:

“A sociedade ainda faz de conta que não nos vê, enfrentamos ainda muitas dificuldades e o quesito “inclusão” está completamente fora dos padrões, o que existe na verdade é uma camuflagem da realidade, para fazer de conta que estão investindo na causa da pessoa deficiente. Nós temos que nos adequar aos espaços, sendo que seria mais fácil adequar os espaços que beneficiariam todo mundo”.

Penha faz parte de um total de 24,5 milhões de pessoas com alguma deficiência em nosso país correspondendo a 14,5% de toda população brasileira. Constata-se que essa quantia não é irrelevante quando analisamos que apesar de ser um número de ordem nacional, este ultrapassa a casa dos milhões.

A partir dos registros percebe-se que nosso país é bem agraciado em termos legais uma vez que nas últimas décadas temos avanços em legislações, publicações científicas, grandes pensadores defendem uma inclusão em sua totalidade, não apenas restringindo-se ao âmbito educacional. Porém na prática presenciamos diversas formas de exclusão muitas vezes provocam constrangimento não apenas para a pessoa deficiente, mas também para os que a acompanham. A sociedade não percebe a pessoa enquanto um ser completo e que por algum motivo tem alguma habilidade limitada em diferentes níveis.

Assim, para além da deficiência objetivamente detectável, há uma produção social da subjetividade de deficiente. É nesse sentido que as ações e decisões dessas pessoas acabam por ser insignificantes diante da deficiência, a qual é isolada como determinante fundamental para uma concepção unilateral do homem. Socialmente, a deficiência teria mais importância que as atitudes dos indivíduos, suas ações e decisões não produziriam transformações no rela, porque são vistos como não capazes de produzir. (ROSS, 2000, p. 2-3)

A postura apontada por ROSS (2000) revela exatamente o nosso cotidiano não apenas escolar, mas social e cultural, em que sobrepujamos a deficiência ao individuo, assumimos um comportamento de piedade, solidariedade muitas vezes motivada apenas por comoção e não por entender que precisamos ter uma sociedade acessível, apta não só ao deficiente, mas a todo aquele que de alguma forma esteja excluído.

Para fins de constatação, Penha é uma brasileira que está vencendo todas as barreiras que lhe são impostas, muitas delas invisíveis e considero-as como as mais difíceis de transpor. Em relação à sua história de vida, apresento-lhes suas palavras:

“Sou Mª da Penha de Souza e no início do mês de Fevereiro, comecei a sentir dores na região lombar, fiquei internada várias vezes, mas ninguém sabia o que eu tinha. As dores iam e vinham cada vez mais fortes. Tomava muitos remédios, mas não adiantavam. Passei por vários hospitais, mas nada era feito. Em setembro de 2002, consultei com um médico aqui e ele me pediu uma ressonância magnética, fiz esse exame e quando o resultado chegou descobrimos q eu estava com 01 tumor gigante na coluna lombo-sacro. Fui encaminhada para o Hospital Santa Rita de Cássia em Vitória ES, fiquei lá um mês, tomando medicamentos a base e morfina para amenizar as dores.

Depois fui para a Santa Casa de Misericórdia em SP no Pavilhão Fernandinho Simonsen onde fiquei por 11 meses. Minhas pernas atrofiaram. Em 12/05/03 fiz a cirurgia de rececção do sacro, o tumor era do tamanho de um melão com 1,200 kg. 2 meses depois fiz cirurgia nas pernas e quadris. Todos achavam que eu ia morrer menos eu! Eu tinha duas opções: VIVER OU MORRER. Então eu escolhi VIVER.”


Várias são as formas de aceitação, de superação e até mesmo de imposição de potencialidades. Através da entrevista realizada percebe-se que a conduta de Penha mediante seu potencial foram primordiais para sua “sobrevivência” nessa sociedade tão exclusivista. Em relação à sua aceitação em relação à deficiência, a mesma afirma:

“Na realidade, eu aceitei mais facilmente do que as outras pessoas, aceitar a condição é totalmente diferente de acomodação, a partir do momento em que eu decidi que eu era uma pessoa normal como todo mundo, as outras pessoas aceitaram com mais facilidade. Tive perdas, atravessei momentos de abandono de pessoas que estavam dentro do meu ciclo de amizades, alguns dizem que o motivo não muito lógico, foi a inconformidade por eu estar assim. Mas a aceitação em si depende muito de cada pessoa, depende da imagem que ela passa às outras pessoas, se nos mostramos infelizes e inconformados, automaticamente essa visão será transmitida para as outras pessoas. Toda recuperação em si, em qualquer situação depende exclusivamente de antemão da própria pessoa. Se eu não me aceito, a sociedade também não aceitará. Se eu acredito que sou inválida, é a visão que a sociedade terá, mas se eu me mostrar capaz e buscar isso no meu dia a dia como têm feito, minha imagem será um exemplo. Resumindo, a aceitação das pessoas provém da minha própria aceitação”.

Afirmar que o cotidiano da Penha é sem discriminação ou dificuldade é mera ilusão. Penha é uma pessoa ativa na comunidade em que vive, atualmente cursa Administração e é presidente da Associação Veneciana de Pessoas Deficiente – AVPD. Quanto à sua visão política a mesma é bastante crítica, até mesmo pelo seu envolvimento na causa da pessoa com deficiência, inclusive sendo escolhida em Fórum Municipal da Pessoa com Deficiência para representar-nos na II Conferencia Estadual que foi realizada em agosto/08.

Quanto ao apoio da sociedade e do poder público em relação à inclusão efetiva da pessoa com deficiência seja na comunidade, escola, trabalho, etc, Penha assim se manifesta:

“Não vejo apoio nessas áreas, pois se existisse esse apoio, muitas coisas já estariam resolvidas. O governo Federal, simplesmente cria projetos que não beneficia a toda à classe necessitada, e ainda temos que concordar com isso. Um exemplo bem recente, o BPC, que deveria ser estendido a todos, e mais uma vez apenas uma minoria será beneficiada.

Ninguém vê a necessidade de adequação, de adaptação dos espaços, de acessibilidade, até acontecer com um membro da família ou até com a própria pessoa. Mesmo com a legislação mostrando nossos direitos como cidadãos, ninguém faz nada pra mudar. Somos submetidos a todo o instante a constrangimentos, e corremos perigo sempre, e mesmo assim, continuam não nos vendo. Não tem como a gente aparecer sempre, pois o sistema nos obriga a ficarmos trancafiados, nosso direito de ir e vir livremente é confiscado pela falta de acessibilidade.

O ideal seria não precisarmos sempre estar pedindo ajuda, apesar de que reconhecer que necessitarmos dela é sinônimo de humildade, não é sempre que as pessoas estão dispostas a nos ajudar sempre que precisamos. “


Em relação a situações de inclusão e de exclusão que ela possa ter vivenciado, a mesma relata que sente-se incluída em seu trabalho e que sua exclusão manifesta-se em algo que a princípio deveria ser básico e acessível a todos:

“Exclusão: Esse termo existe sempre, pois eu particularmente me sinto excluída principalmente no lazer, porque devido à falta de acessibilidade, não temos condições para estarmos nos eventos sociais, bailes, transporte etc. Querendo ou não, essa é uma forma de exclusão”.

A entrevista realizada com Maria da Penha serve-nos de apoio para não desistirmos de lutar por uma sociedade realmente inclusiva e nos traz também muitas inquietações quando constatamos que ainda há muito para ser feito.



Segundo GENTILLI (2001, p. 29)

Em nossas sociedades dualizadas, a exclusão é invisível aos olhos. Certamente, a invisibilidade é a marca mais visível dos processos de exclusão neste milênio que começa. A exclusão e seus efeitos estão aí. São evidências cruéis e brutais mostradas nas esquinas, comentadas nos jornais, exibidas nas telas. Entretanto, a exclusão parece ter perdido a capacidade de produzir espanto e indignação em boa parte da sociedade. Nos “outros” e em “nós outros”

Boaventura de Souza Santos, nos remete a grandes inquietações e estímulo à mudança de postura e de descontentamento, de “desassossego” quando diz que: “As pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza”. Essa talvez, seja uma das grandes constatações que movem e inquietam todo e qualquer cidadão que vislumbra uma sociedade mais justa e igualitária.

REFERENCIAS

GENTILLI, P. A. A exclusão e a escola: apartheid educacional como política de ocultação. ALENCAR, C. e GENTILLI, P. (org.) Educar na esperança em tempos de desencanto. Petrópolis: Vozes, 2001.

ROSS, P. R. A crise da Educação Especial: uma reflexão política e antropológica (Internet).


Obs.: Esta publicação é apresentada por Daniele Falcão, em entrevista comigo, Maria da Penha de Souza para realização de um trabalho de pós graduação.

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